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FONTE LIMPA EM EXPANSÃO

Postado 02/02/2018

Considerada uma fonte limpa e renovável, a energia solar fotovoltaica tem ganhado cada vez mais usuários no Brasil. E o Rio Grande do Sul, de acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), é o terceiro Estado com mais unidades de micro e minigeração de energia, perdendo para Minas Gerais e São Paulo. Das 2,4 mil estruturas em solo gaúcho, 261 delas estão na Serra. A região, atualmente, tem uma potência instalada de 2 mil quilowatts (kW).

Os números tendem a continuar crescendo. O avanço na instalação das placas de captação de energia solar ocorre em alta velocidade. Apenas em 2017, a Serra ganhou 137 novas unidades de micro e minigeração, recorde até agora. Em 2014, eram apenas quatro usinas. Ou seja, em três anos, o número de projetos protocolados ao ano subiu 34 vezes.

O preço da estrutura ainda está longe de ser acessível à maioria da população, mas vem caindo aos poucos. No caso residencial, a instalação pode custar entre R$ 15 mil e R$ 40 mil, dependendo do caso. O segmento doméstico, aliás, é o que puxa a demanda pelo serviço na região.

Apesar do apelo sustentável, já que a energia solar não agride ao meio ambiente, a questão financeira é um dos principais motivadores para quem investe na adoção desta fonte. Por gerar sua própria energia, o usuário depende menos da rede e, assim, o valor da fatura mensal baixa consideravelmente. Há apenas um preço fixo, a chamada taxa de disponibilidade da rede, que varia conforme o tamanho da instalação e o tipo de cliente. Como as placas costumam ter garantia de 25 anos, o investimento acaba compensando no longo prazo.

– Um gerador de energia elétrica através de módulos solares se paga em torno seis anos – calcula Agenor Pillonetto, sócio- proprietário da Geresul, uma das empresas serranas que instala o sistema.

Todos os projetos para captação solar precisam passar pela concessionária. No caso da Serra, a RGE é quem dá o aval para as iniciativas. O volume de propostas que chegam até a empresa cresce de forma exponencial.

– Analisamos, em média, 200 projetos por mês relacionados à energia solar. Em agosto passado, eram cerca de 80 projetos para análise por mês – compara Ângela Lopes, assistente administrativa da RGE e responsável por verificar as propostas.

Neste momento, quase 70 novas ligações de energia solar são autorizadas a cada 30 dias na Serra. Hoje, os clientes serranos com geração própria produzem luz suficiente para abastecer 2 mil pessoas. Proporção que certamente vai aumentar. No decorrer deste ano, a RGE deve autorizar mais de 700 ligações de energia solar na região.

Cada unidade é considerada pela Aneel uma espécie de usina de geração de energia.

 Potencial pouco explorado

Apesar do aumento no número de projetos ligados à energia solar, o Brasil ainda engatinha nessa área. O país recém atingiu a marca de 1,1 gigawatt (GW) de potencia instalada, o suficiente para abastecer 2 milhões de pessoas. Essa quantidade deve dobrar em 2018. A capacidade atual equivale a menos de 1% do total da matriz energética do país, que fica em torno de 160 GW, conforme lembra o presidente da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), Rodrigo Sauaia.

Conforme o dirigente, a captação através dos raios ultravioletas, explorada em sua potencialidade máxima, poderia chegar a 164 GW, o suficiente para alimentar toda a população brasileira.

– Para que se consiga chegar perto dessa realidade, existem alguns desafios. Um é o financiamento, já que hoje existem poucas linhas de crédito para pessoas físicas e jurídicas. E outro ponto importante é a tributação – elenca

Como estímulo, o Rio Grande do Sul e outros Estados já isentaram o ICMS das células solares.

INSTALAÇÃO RESIDENCIAL É A MAIS COMUM

Os clientes residenciais são os que mais recorrem à energia solar. Atualmente, 175 das 261 unidades de micro e minigeração instaladas na Serra, ou 67% do total, são de usuários que buscaram a solução para suas casas ou apartamentos. O acupunturista José Janczak, de Caxias do Sul, é um deles. Desde novembro de 2017, utiliza os painéis no telhado de sua residência para produzir sua própria luz.

A instalação foi rápida, assim como a liberação do financiamento para a contratação do serviço. Janczak recorreu a uma linha de crédito específica para projetos voltados à energia solar, na qual pagará em torno de R$ 450 mensais ao longo de cinco anos.

A escolha por esse tipo de energia já rende os primeiros frutos. A primeira conta de luz veio com uma queda significativa.

– Saiu de R$ 280 para R$ 45 a conta – compara Janczak.

Ao todo, foram colocadas 11 placas no local, o que garante uma potência de 2,5 kW, conforme a Aneel. Para saber o quanto está produzindo e em que intensidade consome, Janczak utiliza um aplicativo por meio da internet, no qual consegue verificar em tempo real os números.

Além das residências, alguns condomínios da região também adotam essa fonte. Desde 2013, a Atena construiu três prédios em Caxias que utilizam a energia renovável. Eles estão localizados nos bairros Jardim América, Madureira e Panazzolo. Nos três casos, as placas fotovoltaicas foram instaladas na cobertura e, com a geração, é possível abater os gastos comunitários dos prédios.

– Um condomínio tem vários dispositivos que consomem bastante energia, como os elevadores. Com a micro geração própria de energia, se tem uma preocupação mínima com o consumo – destaca Eduardo Borges, engenheiro da Atena.

Em todos os condomínios, a estrutura adotada é similar, com 12 módulos de painéis e potência de 3,2 kW. Com isso, consegue-se economizar entre 13% e 20% do consumo da concessionária, dependendo da irradiação solar durante o mês.

PRODUÇÃO SUSTENTAVEL

Há 20 anos trabalhando com o plantio de orgânicos, o produtor rural Gilmar Cantelli sempre que possível adota medidas de baixo impacto ambiental. Oito anos atrás instalou placas solares para o aquecimento da água utilizada em casa. Recentemente, decidiu ir um passo além. Apostou na geração de energia solar fotovoltaica para abastecer sua propriedade no interior de Bento Gonçalves.

Há seis meses, os raios ultravioletas são suficientes para garantir o uso de estufas, do sistema de irrigação e da câmara fria, que mantém as verduras e frutas conservadas. Além disso, os módulos também conseguem absorver a demanda da casa de Cantelli.

– Entre eu consumir a energia de fora e eu mesmo produzir uma energia mais limpa, decidi investir na geração solar – conta o agricultor.

O investimento total foi de R$ 48 mil, financiado por meio do Pronaf Eco, uma iniciativa do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) de fomento ao uso de energias renováveis nas propriedades familiares. Cantelli reconhece que o investimento é alto, mas garante que o retorno a longo prazo é garantido.

Além da preocupação com o meio ambiente e com a economia na conta da luz, outro fator pesou na decisão de Cantelli na hora de comprar os módulos fotovoltaicos: o próprio bem-estar na velhice. Segundo ele, quando chegar a uma idade mais avançada, não conseguirá produzir na mesma intensidade e a tendência é gastar mais luz. Com o sistema solar, a tendência é de que conta venha somente com a taxa mínima da concessionária.

EMPRESAS GANHAM COMPETITIVIDADE

A energia elétrica costuma ser um dos maiores custos na operação de uma empresa. Por isso, cada vez mais, empreendimentos de diferentes setores têm apostado em alternativas para diminuir o valor da conta de luz e ter mais competitividade. Neste contexto, a energia solar fotovoltaica surge como a opção mais popular. Na Serra, os maiores projetos de captação são de autoria justamente das companhias.

A Art In Móveis, de Garibaldi, é a dona da iniciativa mais potente na região. A empresa de médio porte investiu mais de R$ 300 mil para gerar sua própria energia. Ao todo, foram instaladas 215 placas no telhado da fábrica, com uma potência que chega a 82 kW.

– Nos nossos cálculos, em sete ou oito anos deve se pagar o investimento. Foi projetado para longo prazo – aponta José Carlos Fin, diretor da fabricante de móveis.

Os reflexos da decisão começam a ser vistos aos poucos. A fatura da luz baixou de R$ 8 mil a R$ 1,5 mil, o valor da taxa mínima cobrada pela concessionária. Com isso, a fabricante de móveis pensa em expandir a geração em mais 20 a 30 kW. O fato de a empresa ter investido numa fonte limpa, que não prejudica o meio ambiente, é notado pelos clientes e acaba impulsionando os negócios, na avaliação de Fin.

Enquanto os clientes residenciais são responsáveis pela maioria dos projetos de energia solar na região, os usuários industriais e comerciais detém a maior parte da potência instalada. No total, as empresas têm 1,1 mil kW de potencial, conforme a Aneel. Isso representa mais da metade do total da região. No entanto, os números poderiam ser maiores.

O consultor de negócios da RGE, Cleber de Freitas, destaca que muitas empresas, em especial as de grande porte, ainda preferem manter o foco nas chamadas energias firmes, aquelas que podem ser obtidas mesmo em períodos críticos. A solar não é considerada firme, pois a captação ocorre apenas durante as horas de claridade. Já a hidrelétrica, por exemplo, segue produzindo, independentemente do horário. 

CAXIENSE CRIA SOLUÇÃO INOVADORA

De olho na expansão do mercado voltado à energia solar, uma empresa caxiense desenvolveu uma espécie de cubo que armazena a energia e permite que ela seja utilizada nas dependências de um condomínio. Dessa maneira, elevadores, iluminação, cancelas, bombas d’água, entre outros elementos, funcionam especificamente com a carga vinda do bloco energético.

O cubo é acoplado às placas fotovoltaicas e vai armazenando a energia solar. Funciona ao contrário do modelo tradicional, no qual o inversor não guarda o excedente gerado e joga direto na rede. Com o equipamento cúbico, mesmo quando falta luz na rede, o condomínio segue com suas funcionalidades inalteradas, já que recorre à luz guardada no bloco energético.

– Uma das vantagens é que o prédio pode ficar autônomo energicamente da rede pública, pois o sistema funciona o dia inteiro normalmente – aponta Gustavo Zolet, sócio-fundador da Neomot, companhia que criou o produto.

Com um custo de cerca de R$ 30 mil, o cubo já foi vendido para quatro condomínios, em Canoas, Bento Gonçalves e dois em Florianópolis.

Os prédios deverão receber a instalação somente no primeiro semestre de 2019. Neste ano, as vendas devem ganhar fôlego. A partir do segundo semestre, a Neomot planeja negociar dez cubos por mês.

FONTE: PIONEIRO

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